2 de jan. de 2017

Comix Zone


No começo de um ano que não parece lá muito promissor, o Oldschool Digger retoma às atividades com a resenha de um dos melhores jogos lançados para Mega Drive: "Comix Zone", um original da própria Sega de 1995.
"Comix Zone" é um ótimo exemplo de jogo de ação e aventura com toques de beat'em up e é daqueles títulos que tem tudo para cair no gosto de todos, mas se você gosta de quadrinhos e dos anos 90, então esse jogo é para você em especial. Anunciado como "a primeira HQ realmente interativa", "Comix Zone" é nineties até a medula dos ossos, tanto na estética, quanto no roteiro e tipo de humor.
Poucas coisas, aliás, são tão "anos 90" no mundo dos videogames quanto o icônico rabo-de-cavalo ostentando por Sketch Turner. Como ser um herói descolado na segunda metade dos anos 90 sem usar rabo-de-cavalo, afinal?

História e Roteiro



Em uma sombria e tempestuosa noite nova-yorkina, o cartunista Sketch Turner trabalhava em sua prancheta quando foi surpreendido por uma mão saindo da página que estava desenhando. Após o apartamento de Sketch ser atingido por um raio, Mortus, o grande vilão de seus quadrinhos Comix Zone, consegue escapar para o mundo real. 
Obviamente Mortus não veio apenas apertar a mão de seu criador e trocar algumas palavras de apreço e incentivo. O vilão deseja conquistar o próprio mundo real mas para isso precisa tornar-se uma pessoa de carne e osso, e não apenas um personagem de quadrinhos feito de tinta- e para tal precisa  apenas de algo muito simples: destruir aquele que o criou e tomar para si sua vida.
Disposto a se divertir com a tarefa, Mortus arremessa Sketch para dentro da própria história em quadrinhos, prendendo o desenhista naquele mundo por ele criado. Já dentro das páginas de Comix Zone, o desenhista encontra Alissa, uma das líderes da resistência contra as forças de Mortus. Aparentemente confundido com o "escolhido" para derrotar Mortus e seu exército, Sketch deve agora assumir para si o papel de super-herói e salvar não apenas um, mas dois mundos, além de encontrar um jeito de voltar para casa.

Dentre os personagens do jogo, merecem destaque:

* Sketch Turner: Um descolado desenhista underground e também músico freelancer para bandas de rock, sem ter alcançado ainda sucesso (ou dinheiro) em nenhuma das duas coisas. Sua mais nova obra, Comix Zone, é baseada em sonhos vívidos e recorrentes que assombram as noites de Sketch. Para um artista é surpreendentemente durão e bom de briga, além de dono de um senso de humor ácido e de um visual que quase resume tudo o que os anos 90 tinham de mais... peculiar....

* Roadkill: O animal de estimação de Sketch. Uma ratazana de esgoto salva pelo cartunista de morrer esmagada no caminhão de lixo.  também enviado por Mortus para o mundo dos quadrinhos, Roadkill pode ajudar Sketch tanto nos combates, onde desfere descargas elétricas nos inimigos, quanto achando itens escondidos nas páginas da história ou alcançando locais inacessível para o protagonista.

* Alissa Cyan: Uma das líderes da defesa do NWE (New World Empire) e que durante o jogo funciona como a guia e conselheira de Sketch Turner, orientando-o por rádio. Aos poucos acaba desenvolvendo sentimentos mais fortes pelo desenhista do que apenas os de mentora.

* Mortus: Um poderoso mutante e líder de um exército de alienígenas, mutantes e assassinos que pretende não só destruir o NWE quanto dominar o próprio mundo real. É sádico e gosta de jogar com seus oponentes, divertindo-se ao encurralá-los em situações arriscadas. 
E ainda por cima veste-se como um vilão pulp dos anos 30.



Gráficos


Excelentes. "Comix Zone" provavelmente é um dos melhores jogos de Mega Drive nesse quesito. "Comix Zone" possui cutscenes muito bem desenhadas, cheias de detalhes e o jogo em si não fica muito atrás. Tanto os cenários quanto os personagens são muito bem desenhados, com sprites grandes, detalhados e muito bem animados, em especial o do protagonista, com seus vários golpes e poses diferentes.
O mais legal do jogo é o formato das fases, como se fossem mesmo as páginas de uma revista em quadrinhos, onde a ação se desenrola em seus quadros e o herói passa de um cena para outra pulando ou destruindo o enquadramento, com direito a onomatopéias. Todos os diálogos do jogo estão também no estilo, surgindo como balões com textos escritos, deixando o visual de tudo ainda mais divertido.

Música e Efeitos Sonoros



Outro ponto forte do jogo, Tanto as músicas quanto os efeitos sonoros são muito bons. As músicas em especial tem um tom de rock n' roll que combina bastante não só com o clima do jogo quanto com o protagonista. Gosto em especial da música tema do jogo, que toca na tela inicial, mas a da primeira fase (uma Nova York destruída e seus subterrâneos) também merece destaque. 
Os efeitos sonoros são bem diversificados para os padrões do Mega Drive e acrescentam muito ao jogo, dando mais ritmo e ação à correria quadro-a-quadro de Sketch Turner pelo mundo de nanquim. Eu gosto em especial do barulho que os inimigos fazem ao  chocar-se contra o enquadramento após um golpe bem dado. Vibrante.

Controles e Jogabilidade



Originalmente o jogo foi planejado para o controle de 6 botões do Mega Drive, mas não há grandes problemas em jogá-lo em um controle de 3 botões. As principais diferenças são que no controle de 3 botões o bloqueio" é automático (enquanto no de 6 botões é controlado por um botão específico) e que para selecionar o itens desejado deve-se apertar o botão C para alternar entre os itens e o botão A para escolher o item desejado. Se, de fato, o controle de 6 botões ajuda, sua falta não impede que se jogue "Comix Zone" adequadamente- e digo isso por experiência própria.
Os controles no geral respondem bem, sendo que apenas um salto ou outro em alguns trechos deixam um tanto a desejar. No mais o jogo possui uma boa jogabilidade, bem fluida e não é difícil aprender todos os movimentos de Sketch Turner. Aquele que levou mais tempo para eu dominar foi o de rolar (direcional para baixo seguido de direcional para o lado desejado), o qual, apesar de vistoso e útil para esquivar de alguns ataques, não é dos mais necessários durante o jogo.

Dificuldade



"Comix Zone" possui um bom nível de desafio, mas não em um nível injusto ou frustrante. Para a época, é um dos jogos que conseguiu melhor equilibrar a dose entre dificuldade e diversão. O jogo também possui dois finais diferentes (um "bom" e um "ruim") que se relacionam diretamente com o desempenho do jogador na luta final contra Mortus, o que dá um pouco mais de re-jogabilidade ao título.

Comentário Final

versão japonesa da arte de capa de "Comix Zone"
"Comix Zone" é um jogo muito divertido e um dos melhores lançados não só para o Mega Drive mas para os 16 bits em geral. Uniu um visual diferente e até inovador à uma história divertida,  boas músicas, personagens carismáticos e muita luta. O maior problema do jogo é ser relativamente curto, tendo apenas três "episódios" (ou seja, fases), divididos em duas "páginas" (isto é, estágios). Fica realmente um gosto de "quero mais" ao ser terminado.
Mesmo já tendo mais de vinte anos é um jogo que envelheceu bem. Para quem o jogou nos anos 90, é uma boa viagem no tempo da sua infância ou adolescência. Para quem veio depois é uma ótima forma de conhecer um pouco da estética dessa década.
O jogo atualmente encontra-se a venda na loja virtual Steam, além de ter sido incluído em algumas compilações da SEGA para plataformas mais recentes. Altamente recomendado a todos, retrogamers ou não.

NOTA: 10.0


P.S 1: "Comix Zone" também rendeu na época dois CDs de música, sendo o primeiro uma coletânea com 12 músicas de bandas variadas (incluindo Danzig) que vinha como bônus ao se comprar o cartucho nos EUA e o segundo um CD originalmente lançado na Europa com músicas inspiradas nas músicas do próprio jogo e gravadas por uma banda de rock real. Esse segundo CD foi posteriomente lançado nos EUA pelo selo Sega Tunes. Gosto particularmente das faixas "Into the Zone" e"Last to Follow", mas "Woe is the World" também é muito legal.

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